A EDUCAÇÃO DE USUÁRIOS DE
BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS FRENTE À SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E SUA INSERÇÃO
NOS NOVOS PARADIGMAS EDUCACIONAIS.
Elisabeth Adriana Dudziak bibeppel@org.usp.br
Maria Aparecida Gabriel mgabriel@epbib.usp.br
Maria Cristina Olaio Villela mvillela@epbib.usp.br
Escola
Politécnica da USP - Serviço de Bibliotecas
Av.
Prof. Luciano Gualberto, Trav.3, n.158
Cidade
Universitária - Butantã
05508-900
- São Paulo - SP
Brasil
Resumo: O trabalho analisa a educação de usuários de Bibliotecas Universitárias no contexto da chamada Sociedade do Conhecimento, baseado em revisão bibliográfica e rotinas diárias de serviço, buscando sugerir modelos de educação englobando conhecimentos, habilidades e valores, centralizados no aprendiz e em seus processos de construção de conhecimento a partir da busca da informação. A avaliação crítica, relevância e pertinência devem ser consideradas na busca da informação. Também se analisa o papel do bibliotecário como educador e mediador de conhecimento em seus variados níveis de mediação, e a necessidade de cooperação e interação constantes com os docentes, desenvolvendo programas integrados ao currículo.
TEMA: USUÁRIOS DE BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS
1 Introdução
Atualmente a sociedade vem passando por profundas e
rápidas alterações que têm se refletido nos mais variados setores. Nossa
inserção nos processos de globalização, a proeminência da informática e das
telecomunicações, assim como as mudanças que vêm ocorrendo na economia mundial
mudaram os parâmetros profissionais a que estamos subordinados.
Isso tem afetado particularmente a educação, sugerindo a
adoção de novos paradigmas educacionais mais adequados a essa nova realidade.
Nesse sentido tem crescido a importância do aprendizado
significativo, com ênfase na formação totalizante do indivíduo e sua
capacitação para lidar com a incerteza e o volume superlativo de informações
disponibilizadas. Busca-se, mais do que nunca, a construção do conhecimento
enquanto processo.
Nesse contexto a importância dos Serviços de
Informação e sua atuação educacional,
são mais valorizadas. Cumpre então examinar quais seriam as formas mais adequadas
dessa atuação frente a essa nova realidade.
Surgem então as questões: como deve ser a educação de usuários de serviços de informação frente a esse novo
cenário mundial? Quais seriam as competências do bibliotecário educador?
O tema desse trabalho é um percurso na busca de respostas
a essas questões, rumo a um delineamento que sirva de base à implementação de
possíveis modelos de educação de usuários
de serviços de informação. Esses modelos devem estar centrados nos usuários e
inseridos no contexto da Sociedade do Conhecimento.
2 O cenário de uma nova era
Na sociedade atual, a informação passou a ser
elemento chave e sua disponibilização tem crescido de maneira exponencial. Tal
realidade é sustentada pelos meios de comunicação que ajudaram a construir um
quadro calcado na informação e sustentado por uma economia global.
O paradigma
sistêmico ou holístico tem se fortalecido, em função das mudanças pelas quais a
sociedade vem passando. Na visão sistêmica os fenômenos e os acontecimentos são
vistos como dinamicamente interconectados e existe a constante busca pela
totalidade, que é um dos suportes da Sociedade do Conhecimento.
Porém, se hoje
falamos em Sociedade do Conhecimento, há pouco tempo tentávamos definir a
Sociedade da Informação. Sociedade da Informação é o mesmo que Sociedade do
Conhecimento? A pergunta inicial seria: informação é o mesmo que conhecimento?
2.1
Informação ou conhecimento?
Informação e
comunicação são dois conceitos indissociáveis e, de forma simplificada,
poderíamos afirmar que a comunicação se baseia na troca e no compartilhamento
de informações. A informação, por sua vez, é um elemento da comunicação; uma
coleção de fatos, dados ou eventos.
Por outro lado,
o conhecimento passa necessariamente por um processo de percepção, análise,
reflexão e interpretação da informação. Se de um lado a informação se baseia na
fragmentaçção, o conhecimento se baseia na inter-relação, é essencialmente
aberto, sempre em processo, implicando em pensamento crítico na busca de uma
visão totalizante.
2.2
Sociedade da Informação ou Sociedade do Conhecimento?
A expressão
Sociedade da Informação advém do boom da informática e das telecomunicações, que
permitiram a criação da chamada cibercultura, neologismo definido por LEVY
(1999, p.17) como sendo:
(...) o conjunto de técnicas (materiais e
intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores
que se desenvolvem com o crescimento do ciberespaço, definido por meio de
comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores, abarcando não
apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo
oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam
e alimentam esse universo.
A Sociedade de
Informação foi calcada neste cenário essencialmente pós-moderno, informático,
onde o indivíduo percebe uma certa angústia diante do impacto gerado pela
velocidade com que a tecnologia tem evoluído e disponibilizado a informação.
Essa evolução tem ocorrido através principalmente dos meios de comunicação como
a televisão e a Internet.
Por outro lado,
a Sociedade do Conhecimento assume contornos diferentes na medida em que,
devido a essa explosão de informações disponibilizadas, o indivíduo é levado a
desenvolver uma consciência crítica em relação ao que está sendo apresentado, a
analisar a relevância disso para suas necessidades, a assumir posturas
pró-ativas de busca e uso da informação e a estabelecer relações entre as
informações processadas, para então produzir conhecimento.
O centro está no
processo e na verbalização, não mais na conceituação, uma vez que os conceitos
são mutantes em função das condições de relevância , interpretação e contexto
em que o indivíduo está inserido.
O conceito de
Sociedade do Conhecimento é ainda incipiente, fundamentado numa visão do mundo
baseada na interdependência social, na constante mutação, no desenvolvimento da
consciência crítica e na valorização da cidadania, com o aproveitamento da
tecnologia como um meio, não mais como um fim em si mesmo. Surge por um lado,
calcada na Sociedade de Informação, uma vez que sem informação não há
conhecimento; por outro, calcada na economia, pela transformação do
conhecimento em mercadoria, num bem administrável a ponto de podermos falar
numa economia do conhecimento.
Numa economia
global fundamentada nas grandes corporações o valor que o conhecimento agrega é
fator determinante superando cada vez mais o trabalho e a matéria-prima.
Nesse contexto, a educação assume
papel essencial, quer como formadora de profissionais adaptados ao mercado
(empregabilidade), quer como formadora de uma consciência crítica capaz de
constituir (ou reconstituir) o conceito de cidadania, buscando uma visão totalizante do ser humano.
3 A educação na Sociedade do Conhecimento
As mudanças de paradigma social
e econômico que vivenciamos atualmente levam a
sociedade e suas instituições a um processo de amplo questionamento. A
educação e a Universidade devem rever seu papel. Os Serviços de Informação,
particularmente as Bibliotecas Acadêmicas, devem se adequar a esta nova
realidade.
Até
recentemente, a visão educacional predominante foi a tradicional, baseada num
modelo no qual o professor transmite um conjunto de informações aos estudantes
a partir de representações quase sempre abstratas, cabendo ao estudante
perceber, decodificar e armazenar o que lhe foi apresentado.
Atualmente, tem
crescido o interesse pela abordagem onde o aprendiz constrói seu conhecimento através da interação contínua com o docente e com o
conteúdo a ser apreendido, a partir de situações ou problemas que lhe são
apresentados e sobre os quais são feitos questionamentos que o levam a buscar
alternativas e soluções, sendo avaliado constantemente no decorrer de sua
formação. (FOSNOT, 1998).
Assim, como destacam ZABALA (1998) e MASSETO (1998),
a educação para uma sociedade baseada
na construção de conhecimento deve se voltar para alguns aspectos tais como:
. Formação
totalizante do aluno (Abrangendo não só conhecimento acadêmico, como também
desenvolvendo suas habilidades e seus valores );
. Aprendizado significativo (Aquisição de novos significados e
relacionamentos entre idéias, com a formação de uma consciência crítica, oposta
ao aprendizado mecânico); . . Aprendizado
participativo (Os programas devem ser criados a partir do estabelecimento de definições e compromissos entre
educadores e aprendizes);
. Aprendizado contextualizado
(As situações-problema e as tarefas devem estar inseridas no contexto da
comunidade e da sociedade do aprendiz);
. Interdisciplinaridade (A interação entre
educadores e a interação entre conteúdos deve ser prioritária);
. Aprendizado cooperativo (A cooperação entre professores,
bibliotecários e aprendizes deve ser fomentada);
. Aprendizado pró-ativo (O aluno deve ser
incentivado a eleger suas próprias prioridades de formação);
.
Educação continuada (Formação
permanente que se inicia nos primeiros anos de faculdade e se prolonga por toda
a vida, aprender a aprender).
A Universidade
deve se abrir ao diálogo com a sociedade, com os outros espaços de conhecimento
e com o ambiente profissional, já que não é mais o único pólo de produção de
conhecimento.
As faculdades
também devem passar por mudanças, de ambientes condicionadores,
predominantemente restritos às salas de aula, a ambientes de convivência social
e cultural. Nesse particular, a Biblioteca Universitária é um ambiente possível
e desejável.
O paradigma teórico-pedagógico deve se centralizar no
aprendizado significativo, onde o estudante deve saber como o conhecimento é
organizado, como achar a informação, como usá-la , para depois tornar-se apto a
buscar soluções e a produzir conhecimento. A pesquisa e a elaboração de
projetos deve ser enfatizada. Frente a este novo cenário, a educação de usuários é mais do que nunca
uma necessidade.
4 A educação
de usuários de Serviços de Informação
Bibliotecas são instituições educacionais, principalmente as
universitárias e as escolares, que não podem ser julgadas independentemente das
organizações às quais estão intrinsecamente ligadas.
A cada avanço
tecnológico, a educação de usuários
dos Serviços de Informação torna-se mais importante. Cresce também a
necessidade de adequação dos sistemas a seus usuários, de maneira a incorporar
a dinâmica da construção de conhecimento, com seus reveses como a incerteza e a
ansiedade. Somente planejar melhores formas de orientar as pessoas quanto a
fontes e tecnologias não resolve adequadamente tais problemas (KUHLTHAU, 1993)
.
A educação de
usuários é um termo abrangente que reúne vários tipos de ferramentas que
vão desde a instrução, o treinamento, a apresentação de interfaces amigáveis, o
marketing, a divulgação de artigos e reportagens, manuais, tours, cursos de acesso a bases de dados, até a orientação
bibliográfica.
Independentemente
da designação dada, todos os autores parecem considerar que a educação de usuários permeia os vários
processos e produtos da Biblioteca por ser, em essência, a relação entre a
Informação, o Bibliotecário e o Usuário/Cliente. Portanto, serão conteúdos de
aprendizagem todos aqueles que possibilitem o desenvolvimento das capacidades
motoras, afetivas, de relação interpessoal e de inserção social.
BELLUZZO (1989,
p. 37) conceitua a educação de usuários de
Bibliotecas "(...) é o processo pelo
qual o Usuário interioriza comportamentos adequados com relação ao uso da
Biblioteca e desenvolve habilidades de interação permanente com os sistemas de
informação.“
Interiorizar comportamentos significa assimilar conteúdos factuais e conceituais (conhecimentos), conteúdos procedimentais (habilidades) e conteúdos atitudinais (valores). Somente a partir desse trinômio - conhecimentos, habilidades e valores - é possível realizar a educação de usuários em sua verdadeira acepção.
Emprestando
definições de ZABALA (1998) e MASSETO (1998) da área de Educação e extrapolando
para a Biblioteconomia teríamos então vários tipos de aprendizagem:
Aprendizagem de conteúdos factuais: A informação dos fatos,
acontecimentos, situações, dados e fenômenos. Assim é a informação embutida nos
folhetos de divulgação, mapas, tours,
e na maior parte das palestras sobre os Sistemas de Informação.
Aprendizagem de conceitos e princípios: São termos abstratos. Esta
aprendizagem implica na compreensão dos significados e na elaboração e
construção pessoal de conceitos. Assim é o conhecimento dos sistemas de
classificação, ou da organização de thesaurus.
Aprendizagem de conteúdos procedimentais: Conjunto de ações
ordenadas que abrangem regras, técnicas, métodos, procedimentos, dirigidas à
realização de um objetivo. Compreendem a ligação estreita entre os mecanismos
motor e cognitivo, baseados na realização de ação ou conjunto de ações. Assim é
o conhecimento que está por trás dos treinamentos e instruções, no uso de bases
de dados, catálogos, etc, como também na habilidade de buscar, de se exprimir,
de comunicar-se.
Aprendizagem
de conteúdos atitudinais: Engloba uma série de conteúdos que podem ser
agrupados em valores, atitudes e normas.
Os valores se referem às idéias éticas, de
juízo.
As atitudes se referem à maneira como as
pessoas atuam, sua conduta de acordo com seus valores.
As normas se referem aos
padrões ou regras de comportamento a que somos obrigados a atender desde que
integrantes de um grupo social.
Os conteúdos atitudinais enfatizam a criatividade, o cidadão, o
pensamento crítico , a ideologia e o aprender a aprender, desenvolvendo no
indivíduo o processo de reflexão crítica.
A verdadeira educação de usuários engloba todas essas
aprendizagens e significa acima de tudo o aprender a aprender, aprender a pensar
e ser um usuário eficiente da informação. Aprendendo a identificar, buscar,
localizar, avaliar e selecionar a melhor informação, refletindo e escolhendo a
alternativa mais pertinente, extrapolando para outras situações, o usuário
constrói o conhecimento; torna-se capaz de intervir no processo de construção
de conhecimento de outras pessoas.
Segundo KUHLTHAU
(1993) a educação de usuários envolve
uso, interpretação e busca de significados da informação, não apenas busca de
respostas a perguntas, mas formas de auxiliar o estudante/usuário a construir
seus próprios pensamentos e soluções às suas necessidades, desenvolvendo
espírito crítico. A ênfase se dá para
os aspectos que envolvem os processos de busca e uso da informação, na
construção de modelos mentais.
4.1 Os
processos de busca da informação
A busca de
informação é um processo intelectual que começa com um problema do usuário, uma
lacuna entre o que o ele sabe e o que necessita saber, numa determinada
situação. Tal estado é dinâmico, mutável e o processo se inicia com
questionamentos que levam à busca de respostas, através de determinadas
estratégias, análises e tomadas de decisão, buscando o que DERVIN (1993) chamou
de “sense making”. O processo de busca de informação para a
resolução de problemas ou produção de trabalhos científicos é essencialmente um
processo de construção de conhecimento.
Como destaca ROUSE e ROUSE (1984) apud FERREIRA (1996, p.221) "O
ser humano raramente busca informação como um fim em si mesmo. Ao contrário,
ela é parte de um processo de tomada de decisão, solução de problemas e/ou
alocação de recursos."
Os estudos
realizados por KUHLTHAU (1993) revelaram que os estudantes em seus
processos de busca de
informação para a realização de tarefas propostas, passam por uma
sequência de seis estágios
que compreendem: início das tarefas; seleção de um tópico; exploração para
atingir um foco; formulação do foco; coleta de informações; conclusão do processo de busca e processo de
redação.
Incorporando
três domínios: afetivo (sentimentos), cognitivo (pensamentos) e físico (ação), comuns a cada estágio, o modelo de
KUHLTHAU (1993) define os passos da construção de conhecimento a partir da
busca da informação. Isso nos leva a considerar que a educação de usuários de Serviços de Informação deve necessariamente
se ligar a esse processo.
O modelo
educacional que melhor se adapta a esse processo é o da alfabetização
informacional (information literacy).
TIEFEL (1995, p. 318) afirma que cada vez mais a educação de usuários tem
se referido às práticas de alfabetização informacional e RADER (1997) em sua
revisão anual de literatura da área, também se refere a esse termo.
4.2 A alfabetização
informacional
O conceito de
alfabetização informacional (information
literacy) não é um conceito novo. Surgiu pela primeira vez na literatura
com ZURKOWSKI (1974) e reaparece agora valorizado, ligado aos processos de
construção de conhecimento a partir da busca da informação e de valores como o
aprender a aprender.
Aprender a aprender já se tornou chavão. Porém
efetivamente do que se trata? A partir
da visão da educação de usuários esse
conceito fica claro. De acordo com vários autores como a AMERICAN LIBRARY
ASSOCIATION (s.d) ; RADER (1997); SMITH (s.d.); TIEFEL (1995) e outros, uma pessoa alfabetizada em informação é
capaz de:
·
Reconhecer
quando existe um problema ou questão e definir tal problema;
·
Determinar
as questões sugeridas pelo problema;
·
Identificar
a informação necessária à solução do problema e/ou resposta às questões;
·
Encontrar
a informação;
·
Analisar
e avaliar criticamente a informação;
·
Organizar
a informação;
·
Sintetizar
a informação dentro da solução/resposta;
·
Integrar
os novos conhecimentos a seu universo de conhecimentos estabelecendo relações;
ou seja construir o conhecimento.
Em resumo, uma pessoa
alfabetizada informacionalmente aprendeu a aprender, uma vez que sabe:
. Como o conhecimento é organizado,
.
Como encontrar a informação,
.
Como usar a informação para aprender,
.
Como construir conhecimento.
Dentro do cenário
atual a alfabetização informacional tem sido impulsionada pela necessidade de
formar cidadãos capazes de serem aprendizes independentes, ao longo de suas
vidas. Mais do que isso, é necessário aprender a pensar e não somente acumular
conteúdos. Isso se traduz na aquisição do chamado pensamento crítico.
Entendido como a capacidade de ver conecções entre as disciplinas, o
pensamento crítico habilita o aprendiz a considerar questões realmente
significativas, a avaliar a relevância,
a pertinência e os aspectos ideológicos envolvidos em qualquer processo
de aprendizado.
Enfatizando o pensamento crítico, o modelo da alfabetização
informacional integra-se perfeitamente ao modelo de busca e uso da informação
descrito por KULHTHAU (1993) e torna possível realizar uma educação de usuários de qualidade.
Neste contexto o bibliotecário ganha destaque como
educador/mediador do conhecimento, assumindo-se que a educação de usuários de Bibliotecas deve estar inserida na missão da instituição educacional à qual
pertence, com docentes e bibliotecários trabalhando em conjunto.
5 Novas
competências para o bibliotecário
Acompanhando as
mudanças de paradigma do mercado o profissional Bibliotecário também deve estar
preparado e atuar de maneira diferente da que vinha atuando. Dentro do contexto
da Sociedade do Conhecimento cresce sua importância como educador/mediador do conhecimento.
5.1 Mediação
na Pesquisa
Considerando-se
que a produção de conhecimento resulta de um processo que se inicia na busca de
informações para a satisfação de uma
necessidade, partindo-se então para o estabelecimento de relações, surge a
ênfase nos processos de busca da informação.
Em estudos realizados por KUHLTHAU (1993, p.128) aparece o conceito de
mediador atribuído ao bibliotecário, enfatizando tais processos.
Existem nesses processos
mediadores informais e formais. Mediadores informais são pessoas com as
quais o estudante fala a respeito de seu trabalho ou pesquisa, incluindo a
família, amigos, etc. Mediadores formais são os profissionais empregados em sistemas de informação, como os
professores e bibliotecários. [1]
Há um consenso entre os autores de que o
bibliotecário é o profissional, por formação, especialista em coleção, organização, avaliação e acesso à
informação, em seus mais variados formatos e que é, portanto, o profissional
mais preparado para atuar como mediador da pesquisa.
A mediação do bibliotecário geralmente se inicia quando o
estudante já sabe o que precisa e busca coletar informações e, neste ponto, o
sistema Biblioteca é bem eficiente. Porém, nos estágios iniciais da pesquisa ,
onde o estudante experimenta uma situação de angústia e incerteza, não há uma
atuação efetiva do bibliotecário para auxiliá-lo. O bibliotecário deveria atuar
desde o primeiro momento em conjunto com o professor.
Do ponto de
vista de KUHLTHAU (1993), o bibliotecário pode assumir vários níveis de
mediação:
1. Organizador (só operacionaliza o sistema)
2. Localizador (intervenção factual,
respondendo a questões ou localizando informações)
3. Identificador (entrevista, entendimento do problema, indicação de fontes
possíveis)
4. Conselheiro (entrevista, entendimento do
problema, negociação, recomendação de fontes, geralmente do geral para o
específico)
5. Tutor (intervenção no processo, busca
estruturada, interação com o estudante, diálogo, estratégia, recomendações,
checagem, redefinição, encorajamento, atuação conjunta constante até a
resolução e finalização do processo) .
Cada vez que o bibliotecário interage com o usuário algum
nível é utilizado. A maior parte das questões ou problemas ficam no nível
organizador, localizador e
identificador. O intercâmbio entre bibliotecário e usuário raramente chega ao
nível 5 (Tutor), que seria o nível ideal de intervenção . O tutor está ativamente envolvido com o
currículo, professores e administradores, atuando em conjunto no planejamento
educacional.
5.2
Mediação Pedagógica
A mediação pedagógica atribuída ao bibliotecário se
insere na esfera do bibliotecário como docente.
A responsabilidade de quem se dispõe a educar usuários em
Bibliotecas de comunidades acadêmicas é complexa e vasta, requerendo, segundo
PATTERSON (1987) uma mescla de conhecimentos e habilidades tanto como professor
quanto bibliotecário.
O bibliotecário como mediador pedagógico se confunde com
o bibliotecário mediador na pesquisa uma vez que ambos devem estar intimamente
familiarizados com os recursos informacionais disponíveis e os instrumentos de
acesso às informações, tanto no formato eletrônico quanto no tradicional nas
mais variadas disciplinas. Também é desejável que tenham um profundo
conhecimento das estruturas das áreas do conhecimento.
A crescente importância da educação de usuários e da alfabetização
informacional (information literacy)
em todos os tipos de bibliotecas fez crescer o número de questões ligadas à
formação do bibliotecário como mediador pedagógico/educador.
Como educador, o bibliotecário deve estar apto a expressar-se e
comunicar-se, criando um ambiente que estimule o aprendizado, utilizando técnicas
de transmissão de informações efetivas, assumindo também seu papel de tutor.
Porém, nem todos os bibliotecários
estão preparados para assumir esse papel.
De acordo com
PASQUARELLI (1993, p. 99) os cursos de Biblioteconomia oferecem aos bibliotecários
o embasamento necessário para o desempenho da profissão, mas não dão
capacitação didática.
A função do
bibliotecário como docente tem sido enfatizada na literatura e a Orientação Bibliográfica é um exemplo
disso. JACKSON-BROWN (1993) afirma que,
com o crescente uso da tecnologia, o envolvimento dos bibliotecários e dos
Serviços de Informação com as instituições de ensino e pesquisa é cada vez
maior. A expansão dos espaços educacionais promoveu também o acesso à
informação através da Biblioteca e dos bibliotecários que são chamados para
alfabetizar seus usuários no uso da Internet , no acesso às informações e na
criação de uma consciência crítica frente ao volume superlativo de informações
disponíveis atualmente. Neste ponto o papel de mediador de pesquisa e mediador
pedagógico se confundem.
Concluindo,
embora hajam comportamentos díspares convivendo simultaneamente, em termos
gerais, o Bibliotecário educador deve re-orientar sua atuação buscando
desenvolver suas competências
enfatizando:
. Atuação direta
com o cliente/usuário e comunidade na qual esteja inserido;
. Sólidos
conhecimentos das fontes de informação;
. Capacidade de
avaliar a qualidade da informação;
.
Desenvolvimento de pensamento estratégico;
. Atitude
voltada ao aprendizado permanente;
.
Compartilhamento e intercâmbio de conhecimentos;
. Visão
sistêmica da realidade;
. Ampliação da
capacidade organizacional;
. Capacidade de seleção ;
. Capacidade de tomada de decisão;
.
Desenvolvimento de parcerias.
6 Conclusão
É necessário que
o bibliotecário trabalhe junto com os
professores de maneira a incrementar a colaboração e interação mútuas, atuando como co-autores
nas mudanças educacionais e reestruturações curriculares que buscam a adequação
do ensino ao novo contexto da Sociedade do Conhecimento. Seu papel como
mediador do conhecimento traz à luz o verdadeiro sentido educacional dos
Serviços de Informação.
O
desenvolvimento de parcerias para a realização de tarefas, temas ou projetos de
pesquisa propostos pelos docentes como forma de avaliação de seus cursos, é um
dos caminhos possíveis para implementar uma real integração entre os membros da
comunidade acadêmica (alunos, docentes e bibliotecários).
Nesse sentido,
os programas educacionais das Bibliotecas Universitárias devem se voltar para:
·
Ênfase
no trinômio: conhecimentos, habilidades e valores;
·
Mediação
na construção de conhecimento através da busca de informação e da alfabetização
informacional;
·
Mediação
entre o aluno e os suportes de acesso informacional, sejam em papel ou
eletrônicos;
·
Promoção
da cooperação e interação com a comunidade;
·
Ênfase
nas habilidades e nos valores de pensamento e questionamento;
·
Promoção
de uma atmosfera de confiança e segurança para o aprendizado;
·
Auxílio
aos alunos a fim de torná-los
responsáveis por seu próprio aprendizado.
7 Referências Bibliográficas
AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION. Report
of the Presidential Committee on Information Literacy. [online]. URL:
<gopher://ala1.ala.org:70/00/alagophiv/50417007>.
BELLUZZO, R.C.B. Educação de Usuários de Bibliotecas Universitárias: da conceituação e sistematização ao
estabelecimento de diretrizes. São
Paulo, 1979. Dissertação - (Mestrado)
. ECA, USP.
DERVIN, B. An overview of
Sense-Making research: concepts,
methods and results to date. [online] In: International Communications
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1993. Available from WWW, <URL: http://www.eca.usp.br/prof/sueli/sm1983_4.html
>
FERREIRA, S. M. S. P. Novos
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Porto Alegre: Artmed, 1998.
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The Reference Librarian, n.39, 1993.
KUHLTHAU, C.C. Seeking meaning. Norwood: Ablex, 1993.
LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed.34, 1999.
MASETTO, M. (org.)
Docência na Universidade.
Campinas: Papirus, 1998.
PASQUARELLI, M.L.R. O papel
da Universidade na capacitação do estudante de graduação para busca e uso da
informação: a disciplina orientação bibliográfica em revisão. São Paulo, 1993. Tese ( Doutorado ) - ECA
- USP.
PATTERSON, C.D. Librarian as
teacher: a component of the educational process. Journal of Education for Library and
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<URL: http://inst.augie.edu/~smith/infolit.html>
TIEFEL, V.M. Library user education: Examing its past,
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ZABALA, A. Prática educativa. Porto
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ZURKOWSKI, P.G .
Information services environment relationships and
priorities. Washington D.C. : National Comission on
Libraries and
Information Science,
1974. (Related Paper, n.5)
[1]The term mediator, rather than intermediary,
is used for human intervention to assist information seeking and learning from
information access and use(...)a mediator(...)implies a person who assists, guide,
and otherwise intervenes in another person’s information search process.. (KUHLTHAU, 1993, p.128).